30 outubro 2006

carta de despedida

sabe
quando nada mais faz sentido na vida
quando nada mais dá certo
quando tudo se torna um eterno caos
e você decide ser Deus
decide por um fim
a tudo
ela pensou que não tinha coragem
um dia percebeu que coragem não era preciso para fazê-lo
seu mundo já não se definia mais entre o real e o irreal
então não poderia decidir sobre suas ações
outras pessoas a ajudavam na decisão
pessoas concretas e abstratas
todos espíritos
nem bons nem maus em sua essência
mas egoístas para não entendê-la em sua aflição
comparsas
assassinos
ela decidiu abrir uma porta que sempre esteve lá à sua espera
a morte era a única fuga para aquele instante
Deus ou Jesus
Ghandi ou Buda
Osho ou Che Chevara
Renato Russo ou Cássia Eller
Elis Regina ou Raul Seixas
Cazuza ou os últimos monges do Tibet
poderiam estar lá a carregá-la
porque os bons morrem cedo
e o mal perece na Terra
e não queria mais estar lá
com aqueles desumanos
cegos de alma
doentes de espírito
fracos de amor
aliás
eles não conheciam o amor
nem sabiam construir nada através do amor
tudo era interesse
matéria por matéria
idéias roubadas
trabalhos trapaceados
ganância comprada
e não queria deixar nada para ninguém
a não ser suas lembranças
sua memória martelando nas mentes dos vivos
que queimassem todos o seus objetos
pois depois de sua morte estariam amaldiçoados
que doassem para os necessitados
que fossem para bem longe
e suas energias se dissipassem
e ela então viveria sua morte feliz

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